Laudo mostra que agrotóxicos causaram morte de milhões de abelhas no RS

 

Mortandade ocorreu nas cidades de Mata, Santiago, Jaguari, São José das Missões, Campo Novo e Cruz Alta.



Mesmo com o uso nas doses recomendadas, agrotóxicos podem encurtar a vida das abelhas em até 50% do tempo.

Do chão, abelhas mortas eram retiradas aos montes. As operárias caíam sem vida das caixas onde a colmeia antes trabalhava em sintonia com a rainha para produzir mel. O apicultor Maicon Folgerini, 25, estranhou a morte em massa em meados de outubro passado, em plena primavera, o auge do trabalho dos enxames.

O caso foi um dos mais graves registrados no Estado, onde morreram ao menos 500 milhões de abelhas melíferas entre outubro de 2018 e março de 2019 em decorrência de agrotóxicos. Cada colmeia tem até 80 mil abelhas. Além de Matar, mortandades ocorrem no mesmo período em cidades como Santiago, Jaguari, São José das Missões, Campo Novo e Cruz Alta.




O número de mortes pode ser muito maior porque os casos nem sempre se tornam públicos e não há uma base de dados oficial. Tampouco existem dados nacionais. Além disso, não há controle do impacto dos pesticidas sobre as abelhas nativas do Brasil — as melíferas foram trazidas ao país com os imigrantes no século 19.

Os apicultores de Mata reagiram e conseguiram mais do que um caso de polícia. Laudo técnico do Laboratório Nacional Agropecuário do Rio Grande do Sul (Lanagro-RS), o laboratório do Ministério da Agricultura, realizado na sequência do evento, encontrou cinco tipos de agrotóxicos nas abelhas mortas, no mel, nas crias e nos favos. A variedade indica que foi pulverizado um "coquetel" de agrotóxicos. Entre os produtos encontrados pelo laboratório está o fipronil, utilizado nas lavouras de soja que predominam na área.

— Quando compra os produtos, existem procedimentos que na teoria são muito bonitos. É como uma receita médica sobre quantidade e uso, deveria ter a fiscalização da pulverização no avião. Mas estão misturando vários tipos de produtos e jogando do avião — diz Antônio Philomena, professor aposentado da Universidade Federal de Rio Grande (Furg), que realizou uma perícia em Mata e já trabalhou em Mariana e Brumadinho após os crimes ambientais que mataram centenas de pessoas.

O caso de Mata é simbólico porque é comum que as indústrias do setor de agrotóxicos apontem a ausência do nexo causal entre a aplicação de defensivos e as mortes das abelhas para evitar que os produtos sejam banidos, como já acontece na Europa, e para que os casos não avancem na Justiça.
— Não é mais suposição, há provas robustas da contaminação por agrotóxico. Se isso não for coibido, as mortes podem se repetir quando chegar a época em que os fazendeiros aplicam agrotóxico. 

O medo de perder as abelhas, o investimento feito e a renda da venda do mel gera angústia nos apicultores — diz José Renato de Oliveira Barcelos, advogado e integrante da Articulação pela Preservação da Integridade dos Seres e da Biodiversidade (ApisBio).

Fonte: Secretaria da Agricultura do RS
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